I - Manifestos

A nostalgia do futuro era a febre que dominava o começo do século, de 1900 até a segunda grande guerra, todos estavam siderados pela ideia de que o futuro era o centro ontológico, nos anos 60 até o final do século XX, a Nostalgia do passado era o vetor, seja ele um passado edênico, bucólico e idílico (nos hippies por ex.) ou um passado escravocrata e feudal (nas elites dominantes, na burguesia conservadora de ultradireita e etc.), o que vemos nos recentes acontecimentos, que desencadearam as várias marchas de protesto em todo o Brasil, é o começo da morte da Nostalgia e a chegada do presente, finalmente chegamos a um ‘tempo presente’ que inaugura um lugar sem centro como uma ontologia, algo muito parecido com a Internet, mas muito mais complexo do que ela. Condenados ao atravessamento de um vazio que ocupa o lugar de uma profecia , um vazio que é como uma partitura em branco para a criação de um novo status para a chamada ‘ordem social’ que tem na cartografia da rede seu símile e nas instituições seculares seu simulacro. Podemos dizer que o ‘Brasil não é mais o país do futuro’ porque todos estes movimentos de indignação e desespero negam um devir conhecido para inaugurar o vazio criativo de uma presentidade infinita. O pensamento de classe (da classe dominante principalmente) é extremamente redutor diante da complexidade do acontecer espontâneo de todos estes precisos gestos de negação devidamente registrados para uma avaliação que nos escapará sempre que tentarmos enquadrar estes gestos, sejam eles, os óbvios gestos de vandalismo ou seus opostos, gestos que atravessam todas as classes sociais e precisam ser analisados fora da linha podre do pensamento dicotômico, econômico ou das linhas categóricas da sociologia.





II - Manifestos (Segunda parte)

Uma segunda instância da força de invenção materializada através dos movimentos de ocupação das ruas, seja pelo ataque aos símbolos (através das ações  da dimensão  chamada Bloc destas forças)  ou pela ocupação das vias públicas por grupos em um fluxo organizado de outro modo, esta segunda instância que chamo de ‘refluxo e criação de uma cartografia conceitual’ que irá desembocar em novas estratégias de organização da  revolta  está em pleno vigor no momento em que escrevo este texto, mas é necessário não associar tais forças a um grupo x ou y, elas são o resultado de um processo que se iniciou entre 2000 e 2010, da criação de um pensamento autônomo e deliberativo como prática possível, este pensamento se emancipou  em todas as direções para longe da cristalização que ocorre de seus entusiasmos dentro dos organismos coletivos, sejam eles conselhos municipais, grêmios, sindicatos ou coletivos, se emancipou para agir fora de certos determinismos dicotômicos, existe um entrelaçamento entre as ações destes fluxos que são como que amplificações dos fluxos de viciados em crack ou de moradores de rua expulsos de certas zonas urbanas e da  passeata infinita dos viciados em crack ao rês do chão ou da passeata infinita de pessoas invisíveis composta essencialmente por moradores de rua, estas manifestações constantes ao se configurarem como extremos de uma violência absoluta são os átomos paradigmáticos destes fluxos e operam em sinergia com eles.





III - Black Bloc Forever

Encerrando o pequeno ensaio onde analiso as manifestações de junho e suas irradiações, agora elaboro aqui uma defesa do movimento black bloc, não há nenhum problema em destruir aquilo que não deveria existir, esta parece ser a premissa dos Black Blocs, um enunciado profundamente lógico, quando o pensamento crítico analítico se transforma em uma ação direta, não vejo nisso  um excesso ou a materialização de impulsos niilistas de fundo infantil mas sim o oposto disso, me parecem na verdade intervenções da energia criadora a partir de um imaginário libertário que talvez em alguns momentos se alimente do desejo de vingança, se pensarmos que as grandes metrópoles foram fundadas sobre genocídios, massacres e espoliações, enfim, fundadas pelo crime. Os Black Blocs poderiam substituir as máscaras por uniformes de soldados da PM e freiras e padres e criar assim um gigantesco happening. É dentro da dimensão do happening que acredito as ações dos Black Blocs sofreriam uma ampliação feroz, mais do que a força da destruição dos símbolos da opressão, o poder, em seu centramento de violências organizadas como serviços, teme a ridicularização pela via do humor de seus símbolos, Hitler perseguiu primeiro os humoristas, uma das maiores fragilidades da estratégia bakuniniana de destruição dos símbolos do Estado é o excesso de seriedade trágica de seus membros, a dimensão épica de tais atos de valor que funcionam como proposições da criação através da destruição, o humor é uma das nossas maiores armas, agir em silêncio naquilo que um poema de Hilda Hilst chama de ‘lúcida vigília’ também seria uma outra estratégia interessante. O que podemos aferir de todas estas ações é que se abre agora uma nova dimensão e um novo campo para os Black Blocs, onde todos podem agir como artistas em perigosas fusões de bobos da corte com guerrilheiros psíquicos. Algumas causas como a do Wi-Fi aberto e a Internet livre para todos na prática e não em tese, o passe-livre, a desmilitarização das polícias e uma verdadeira autonomia deliberativa para os conselhos comunitários gerando um controle social e o início do fim da sociedade de controle se abrem para os Black Blocs como  vetor de ações cada vez mais pontuais, humorísticas e destrutivas, ações que são uma resposta aos massacres e genocídios patrocinados pelo Estado militarizado em zonas de exclusão, genocídios e massacres que deveriam gerar uma espécie de ‘Julgamento de Nuremberg’no Brasil para os atuais governantes, os atuais e os anteriores. Longa vida aos Black Blocs! Como diz a canção ‘A face do destruidor’ da banda paulista Titãs: O construtor não pode construir porque o destruidor não destrói.

Marcelo Ariel

ENGLISH VERSION 

translated by pollutionculture




9 Comments:

At 26 de novembro de 2013 às 11:30, Anonymous Anônimo said...

"Longa vida aos Black Blocs!" my ass!
Sair quebrando tudo que se vê pela frente faz crescer o ódio daqueles que pagam seus impostos em dia e vêem essa grana toda sendo jogada ralo abaixo pelos governos, pois sabem que todo esse vandalismo será usado como "desculpa" para gastos exorbitantes para "colocar a casa em ordem novamente".

 
At 26 de novembro de 2013 às 17:32, Anonymous Anônimo said...

Amigo, telefone pra você, é o Rogério:

http://youtu.be/It_-KbTaT_I

 
At 26 de novembro de 2013 às 20:00, Anonymous Anônimo said...

essa foto de bh do muleuque merece ta muito foda. ótimo texto parabéns!

 
At 27 de novembro de 2013 às 09:22, Anonymous Anônimo said...

O povo vive emordaçado nas programações tragidas da tv, nos transportes lotados e precarios no salarinho necessario para o arroz com feijão. O que foi quebrado nessa ultima onda, não chega nem perto dos danos causados nas vidas da população por causa da negligência social e a cegueira politica que subestima a capacidade de ser do individuo. A desordem é necessaria para pulverizar os espaços. VIVA TODAS AS AÇÕES DE DESORDEM!! VIVA A COMUNIDADE CRIATIVA!!! VIVA OS BLACK BLOCS!!! VIVA OS PUNKS!!! VIVA A GALERA DA PESADA!!! VIVA A AUTONOMIA!!!

 
At 3 de dezembro de 2013 às 03:31, Anonymous Zé da Pinga said...

As manifestações de junho são um sinal da demência coletiva do povo brasileiro, uma das nações bárbaras da Terra.

 
At 3 de janeiro de 2014 às 20:00, Anonymous Anônimo said...

O problema é que os caras que sabem não fazem nada, e os caras que fazem não sabem de nada... eai como vc vai quebrar esse paradoxo?

 
At 5 de janeiro de 2014 às 06:45, Anonymous Anônimo do Anônimo dentro do teatrofantasma said...

primeiro não é um paradoxo, pensar é uma ação porque conduz até a ação, o mov. Black Block é fruto de um pensamento que começa por Nechayev & Bakunin e por Hakim Bey sem que seja necessário que Hakim Bey saia por aí como Bakunin jogado bombas, álias se Bakunin não tivesse sido preso por isso, talvez tivesse influenciado mais no processo da tomada de poder na Rússia escrevendo textos com Karl Marx, que estava simpatizando e muito com as idéias dele...

 
At 25 de janeiro de 2014 às 07:12, Anonymous Alex Ludo said...

O Marcelo traduziu muito do meu sentimento sobre o panorama atual.... só queria que as pessoas fossem menos coxa e não nos tratassem como loucos... estar adaptado a uma sociedade Doente não é nenhum sinal de saúde... Saudações ao grande Espírito!

 
At 5 de junho de 2014 às 20:51, Anonymous Naldinho Silva RJ boto a cara. E os anonimos? said...

Os adaptados e bem sucedidos na ordem burguesa geralmente tem câncer entre 35 e e 45 anos. A sociedade está doente como disse o amigo, a tatica blackblock não é o remédio final, mas impõe um limite e um custo a expansão da barbárie da sociabilidade capitalista. Jah vencemos!, não haverá a copa dos sonhos do politico burgues, do empresario-cidadão foca (aliança huck-ronaldo), nem dos derrotistas de sempre.

 

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